Sobre Vida e Morte

Mais de Um Século

Na última segunda-feira, dia 20 de Novembro, minha vózinha querida completou 105 anos. Ela foi inspiração pra vários posts aqui do meu blog. Fiz um paralelo entre a vida dela e as Blue Zones de Dan Buettner e falei da influência dela nas minhas paixões por jardinagem e culinária. Minha avó é uma fortaleza! Uma matriarca admirável, que formou e manteve unida uma família incrível. Ultimamente ela anda distante e cansada, já não interage mais como antes e reconhece pouca gente, o que me fez refletir sobre vida e morte.

Nova Perspectiva

Tenho escutado bastante o Podcast da Cathy Heller ultimamente –  mulher de história inspiradora e energia contagiante. As entrevistas dela são incríveis! Outro dia escutei a entrevista da Cathy com o Justin Baldoni. Eu nunca tinha ouvido falar no cara mas, me apaixonei por ele antes mesmo do fim da entrevista. Justin é um cara pra lá de bacana. Só pra se ter uma ideia ele escreveu um livro chamado Boys Will be Boys Human, e o Podcast dele se chama Man Enought.

Contextualizando

Um cara que se propõe a falar sobre como humanizar garotos e que tem um Podcast que fala sobre sentimentos pela perspectiva masculina é, no mínimo, digno da minha admiração. Na entrevista com a Cathy, Justin conta um pouco de sua história – ele começou como ator, fez séries, dublou vários personagens pra animações da Disney e acabou se encontrando na produção de filmes. Quando jovem Baldoni teve a oportunidade de acompanhar os momentos finais da vida de alguns familiares e acabou se interessando pelo universo de fim de vida e morte. Então saiu pelos Estados Unidos pra encontrar outras pessoas em estado terminal e acabou fazendo a série My Last Days e outros filmes sobre o assunto como Five Feet Apart e Clouds.

A Morte

Através da convivência com pessoas em leitos de morte, Justin acabou por desenvolver um olhar diferente em relação ao tema. Convivendo lado-a-lado com estas pessoas ele pôde testemunhar formas diferentes de encarar e se preparar para a mudança de plano. Depois de compilar essas vivências ele chegou à conclusão que existe sim uma maneira, que ele acredita ser a ideal, pela qual devemos nos preparar para a morte. Eu nunca tinha pensado nisso, mesmo sendo espírita há 30 anos.

A Preparação

Baldoni diz que devemos nos preparar para a morte como nos preparamos para uma viagem de férias! Achei bem interessante. Se sabemos que o plano espiritual, ou o céu, é um lugar melhor que a Terra, porquê temer a morte? Deveríamos cultivar apenas a expectativa de conhecer um lugar novo. Ou talvez de voltar a um lugar que estivemos num passado escondido na memória. 

A Gestação

Quando um bebê está na barriga da mãe, menos de um centímetro o separa do mundo exterior. Aquele serzinho não tem a menor ideia de como será a vida do lado de fora. Não sabe da existência do ar, das cores, dos sabores. Está confortável e protegido no seu mundinho aconchegante. Nada do que é necessário para que ele viva na Terra está passando pela cabeça dele. Mas ele está sendo cuidadosamente preparado. Seus pulmões estão sendo desenvolvidos pra que ele possa respirar, os ouvidos para admirar os sons da natureza e a voz da mãe,o nariz pra sentir os diversos aromas. Mas ele não tem consciência de nada disso.

O Nascimento

Além de toda a preparação durante o desenvolvimento da gestação, são intensos também os preparativos para o nascimento do bebê. Tudo é arranjado com todo amor e carinho. Logo após o parto o bebê é entregue ao pai e, logo em seguida, vai pro colo da mãe. Os familiares,  ansiosos pra ver a criança, fazem visitas. O mesmo acontece na morte – considerando que ela é o re-nascimento do espírito para a vida eterna. Nossa recepção também está sendo preparada. Estaremos nos braços do Pai. Entes queridos que partiram antes virão nos visitar. Se sabemos que seremos acolhidos por pessoas queridas, porquê não cultivar essa expectativa em lugar do medo?

A Vida

Enquantos vivemos, estamos igualmente sendo cuidadosamente preparados para renascer em espírito. Sabemos disso em nosso sub-consciente. Assim como os bebês estão separados do mundo exterior por finas camadas de tecido da mãe, algo sutil nos separa do incerto mundo espiritual. Também não temos certeza de como será do lado de lá, mas estamos sendo preparados. No espectro da vida do espírito, a vida terrena é apenas uma pequena passagem, uma outra gestação.

A Viagem

Da mesma forma que arrumamos as malas para uma viagem de férias, devemos nos preparar para a nossa viagem para o plano maior. Quando vamos para a praia levamos roupas leves e de banho. Se vamos fazer trilha levamos bota, cantil, calça. Mas na bagagem final só é preciso bens não materiais. A mala que levaremos dessa existência é o nosso coração, o qual devemos encher com virtudes.

Virtudes

Somente as virtudes que adquirimos ao longo da nossa caminhada na Terra irão conosco. Tudo pelo que passamos nessa vida é para que consigamos adquirir nobres virtudes. Os desafios, dificuldades, sofrimentos e também alegrias são oportunidades de aprendizado. Tudo é parte da preparação. Algumas pessoas aprendem mais rapidamente que outras, cada uma no seu próprio tempo mas, todos no tempo de Deus. Estaremos prontos quando for a nossa hora.

Além da Morte

Interessante que eu nunca tive medo da morte. O fato de querer viver uma vida longa não é por receio que ela termine. Eu tenho até muita curiosidade de fazer a travessia. Entretanto quero estar com a minha mala cheia. Quero viver uma vida longa e aproveitar ao máximo meu tempo na Terra pra adquirir minha bagagem. É preciso tempo pra adquirir a mais importante das virtudes – amar incondicionalmente todos os seres. Acredito que com o coração cheio de virtudes minha estadia no plano espiritual vai ser ainda mais especial. 

É Preciso se Cuidar

Qual será então a importância de cuidar do corpo já que as virtudes são o mais importante? Outra reflexão bem interessante. Entender que o corpo é o instrumento do espírito faz parte da nossa preparação. O corpo é o veículo pelo qual experimentamos os sentimentos e sensações que vão gerar os aprendizados e virtudes. Assim como podemos enxergar mais claramente através de um vidro limpo, quando o corpo está limpo nossa conexão com o divino fica mais forte. Quando cuidamos bem deste presente valioso, temos um nível diferenciado de energia.

Gratidão

Sou muitíssimo grata a Deus por me permitir conviver com a minha Vovó Filhinha por todos esses anos. Meu coração transborda gratidão por todo o amor que recebi dela, cada pão de queijo, cada pastel, cada doce, cada oração que ela fez por mim, pelos meus filhos e pelo meu marido – ela sempre fez questão de agradá-lo mesmo achando ele muito feio pra mim (rs). Minha avó me ensinou a expressão do amor além do toque físico – o amor que acolhe, cuida e aceita. D. Filhinha acolheu irmãos, parentes doentes, sobrinhos que vinham estudar na cidade grande, filhos, noras e netos. Acolheu especialmente a mim e minhas irmãs num momento de abandono.

Muito Obrigada

Obridaga Vó! Por me ensinar a cozinhar, a plantar e por costurar meus vestidos de formatura. Nenhuma palavra pode descrever o quanto eu sou grata por todos os momentos juntas e por todos os abraços. Não quero dizer que estou pronta pra sua partida mas, acho que a senhora deve estar. Viveu uma vida longa, criou uma família linda, ajudou muita gente. Sua família está longe de ser perfeita, a senhora nunca foi perfeita mas, amou muito, ensinou bastante e tenho certeza que aprendeu. Acho que a sua mala está pronta. 

Chegada

Espero que as pessoas queridas que se foram possam estar te esperando na sua chegada – vovô, tio Rui, tio Resende, Aline, seus pais, irmãos, irmãs e tantos outros. Que seja um re-encontro repleto de alegria. Nós vamos ficar com as lembranças dos domingos maravilhosos de convivência, do cheirinho do pão de queijo saindo do forno e do sabor único do seu pastel. Pode ir tranquila vó, só vamos chorar de saudades mas, ficaremos todos bem. 

A morte não é o oposto da vida mas, parte dela. Que possamos estar todos preparados – e em paz, para as inevitáveis despedidas.

Lembre-se: Bom é o que te faz bem!

Anna Karina.

Saiba mais sobre a vida da minha avó em Vovó Zona Azul.