Bem-vindos à Minha Cozinha
Quem me conhece bem sabe o quanto eu me sinto à vontade numa cozinha. Gosto de cozinhar e cozinho desde cedo. Ganhei meu primeiro livro de receitas quando tinha 13 anos e durante a minha adolescência me aventurava a fazer bolos, sobremesas e alguns pratos simples. Aos 18, quando eu e minhas irmãs fomos morar sozinhas, assumí a cozinha da casa. Claro que no início o cardápio e o conhecimento eram restritos mas, fui experimentando e aprendendo pouco a pouco. Hoje digo com segurança que cozinhar em casa é muito mais do que um afazer doméstico.
Uma Relação Diferente
Durante os quase 20 anos que trabalhei em fábricas no Brasil, as refeições eram fornecidas pela empresa como benefício. Empresas de maior porte normalmente tem um restaurante próprio e servem refeições subsidiadas aos funcionários. Isso foi o normal pra mim desde os meus primeiros estágios e nas três fábricas nas quais trabalhei.
Nos Estados Unidos é bem diferente. Aqui nenhuma empresa fornece ou subsidia refeição. Cada um se vira como quer ou pode. Funciona como no desenho dos Flintstones, na hora do almoço a maioria pega sua lancheira e come o que trouxe. A outra opção é comprar nas vending machines ou em algum fast food. Por isso os sanduiches e as cadeias de fast food são tão populares por aqui.
Um Novo Olhar
Logo nos primeiros meses trabalhando aqui nos Estados Unidos percebí que as pessoas agradeciam o gerente pela comida em ocasiões especiais quando a refeição era fornecida – o que é comum em feriados como Thanksgiving ou quando uma reunião é marcada no horário do almoço. Nunca em 20 anos ví isso acontecer no Brasil. Foi aí que eu percebí que eu nunca tinha dado o devido valor ao benefício que tive por muitos anos.
Como nos EU a mão-de-obra é cara, ter funcionários domésticos todos os dias não é comum. Quem não cozinha acaba gastando muito com comida. Então as pessoas dão um valor especial à receber uma refeição, mesmo sendo uma simples pizza. Não é só a comida que você está ganhando mas, todo o tempo envolvido no preparo, desde as compras. Quem nunca teve a necessidade de fazer a própria comida diariamente não entende o verdadeiro valor de receber “de bandeja”.
Um Ato de Amor
Cozinhar é, de fato, um ato de amor. Foi sempre o maior amor que recebí da minha avó e que recebo da minha mãe. É a linguagem de afeto que eu aprendí desde cedo e que intuitivamente comecei a usar. Hoje sei que o amor é o melhor tempero e o ingrediente secreto das delícias da vovó. Em seu livro chamado Superlife, Darin Olien diz que só deveríamos comer o que foi preparado por nós mesmos ou por outra pessoa que nos ama. Concordo plenamente! Nutrir o outro é a expressão maior do amor! Compreendi esse sentimento quando amamentei meu filho pela primeira vez. Os momentos mais memoráveis com meus bebês foram amamentando.
Minha Forma de Amar
Alimentar a minha família e pessoas queridas é um prazer enorme pra mim. Gosto de receber e de ver a mesa cheia. Aprecio essas reuniões mas, mesmo quando estou sozinha faço questão de preparar alguma coisa bonita e gostosa pra mim. Eu faço questão de cuidar de mim, de expressar amor e afeto por mim mesma. Gosto de cuidar do meu corpo – esse templo mágico e divino que me permite viver nessa Terra. Quero que ele esteja forte e bem nutrido para que eu me sinta bem. Em ultima análise, cozinhar é uma forma de auto-cuidado.
Evitando Toxinas
Acho importante saber o que eu estou comendo. Quando eu faço a comida tenho certeza que não estou consumindo nada que possa me fazer mal. Infelizmente não podemos esperar que restaurantes usem azeite de oliva extra virgem e ainda consigam manter as portas abertas. Em casa eu uso o melhor que meu orçamento pode pagar. Evito as frituras, os óleos refinados, as farinhas brancas super processadas, o açúcar, o sal sintético e produtos industrializados. Pra que tenham uma vida de prateleira longa, todos os alimentos que foram processados e embalados possuem conservantes, estabilizantes, espessantes, adoçantes e outros em sua composiçao. Hoje sei que todos esses “antes” são altamente tóxicos.
Energia
Sem falar na energia. Quando eu cozinho pra quem eu amo essa é a energia que coloco na minha comida. Cozinho com prazer, calmamente, ouvindo uma musiquinha. Imagine a energia que um cozinheiro de restaurante coloca na comida que ele faz – ganhando salário mínimo, acordando às 5 da manhã, pegando ônibus lotado pra chegar ao trabalho, passando o dia todo em pé, e sendo pressionado pra fazer tudo rapidinho. Além disso o restaurante tem que ter lucro, claro! Então eles usam o que há de mais barato pra deixar a comida saborosa. Te garanto que o mais barato não é nada saudável.
Um Ritual
Cozinhar pra mim é uma terapia, uma forma de relaxar e encerrar o dia. A família sentada à mesa conversando e saboreando é sempre uma celebração. Dou muito valor a esse ritual mesmo sendo às vezes corrido e cansativo. As memórias afetivas que temos e a relação que desenvolvemos com a comida são criadas em momentos como estes na nossa infância. Se as refeições foram em um ambiente onde houve amor, cuidado e afeto, os sabores ficam na memória pra sempre. Tenho a felicidade de ter muitas memórias afetivas sobre comida e crio oportunidades para que meus filhos tenham as deles.
Um Movimento
Fico feliz em ver um número crescente de pessoas interessadas em culinária ultimamente. Muitos cheffs que viraram celebridades, programas de TV dedicados à promover a profissão e o tema. Tenho visto vários perfis no Instagram de pessoas compartilhando receitas, dando dicas de cardápios e coisas afins. O meu favorito é o The Happy Pear – irmãos gêmeos Irlandeses que começaram com uma fazenda e hoje tem uma linha de produtos veganos e cafés no estilo Farm to Table muito bacana! Esse é um movimento na direção certa, afinal cozinhar, especialmente com produtos frescos, faz muito bem pra saúde!
Lembre-se Bom é o que te faz bem.
Anna Karina.
Veja uma das minhas receitas aqui – Sobremesa Saudável.
PS.: Crédito da foto pro meu filhão, Gabe Paulino.